Paixão e frustração no balé

Sim, siga­mos.

Como o balé está asso­ci­ado à per­fei­ção de movi­men­tos com­ple­xos, é muito fácil se frus­trar nessa ati­vi­dade. Tenha a pes­soa a idade que tiver.

E exis­tem, sim, limi­ta­ções que o corpo vai impondo no decor­rer do tempo. As arti­cu­la­ções vão ficando mais pre­sas, os mús­cu­los mais frou­xos, o exato oposto do que pre­ci­sa­mos como bai­la­ri­nos, aliás.

Nesse cená­rio, o adulto tende a se frus­trar mais, claro.

E frus­tra­ção pode cau­sar ansi­e­dade: será que essa limi­ta­ção é definitiva?

E frus­tra­ção pode cau­sar desâ­nimo: será que vale a pena tanto sacrifício?

Como desis­tir do balé seria desis­tir de mim, acho que criei meca­nis­mos de sobre­vi­vên­cia à frus­tra­ção, para olhar com espe­rança para o movimento.

Colegas que come­ça­ram muito cedo, hoje, na fase adulta, vivem dizendo: ah, não con­sigo mais fazer isso, não con­sigo mais fazer aquilo.

chris

Como come­cei agora, e ainda não tes­tei todos os meus limi­tes, sem­pre penso: AINDA não con­sigo fazer isso, AINDA não con­sigo fazer aquilo.

E tenho uma fé danada no poten­cial do corpo. E tenho uma fé danada no poten­cial que a vida tem de nos surpreender.

Se não ten­tar­mos de ver­dade, como sabe­re­mos onde pode­ría­mos ter che­gado se não com­prás­se­mos o dis­curso da limi­ta­ção? Como sabe­re­mos que a limi­ta­ção AINDA não era irreversível?

Jean Marie, meu mes­tre de balé na Sauer, cos­tuma dizer que a difi­cul­dade está muito mais na mente do que no corpo.

E con­cordo cada vez mais com isso.

Converso muito com as minhas célu­las. E sei que elas me enten­dem. Converso muito com o uni­verso, que parece enten­der minha pai­xão também.

Se a tra­je­tó­ria em busca de um sonho é antes de mais nada uma tra­je­tó­ria em busca de si mesmo, que a pai­xão nos per­mita esse mer­gu­lho no auto­co­nhe­ci­mento, por­que o “sonho” é um cha­mado que se jus­ti­fica em si mesmo, é o que o uni­verso pode ter nos con­fe­rido como pro­pó­sito de existir.

Tudo o que não quero é vol­tar ao tempo em que tinha sau­dade de mim, sau­dade do que pode­ria ter sido. Não quero, nunca mais, olhar o tempo como inimigo.

Sim, siga­mos.

Deixe um comentário