Olá,
Continuando a minha série sobre o trabalho na barra, o objetivo, nesta postagem, é falar um pouco sobre o exercício do battement frappé.
O verbo frapper em francês é traduzido como bater no sentido de golpear. Considero, atualmente, a palavra “golpeado” mais apropriada para este exercício. O trabalho consiste em uma flexão da articulação do joelho flexionando a perna e uma rápida extensão (golpe) que vai desenvolver agilidade e força na musculatura extensora da perna e também, com menos ênfase, nos flexores da coxa.
O battement frappé é um exercício polêmico. As diferentes escolas apresentam formas distintas de fazer essa ação. Quando o joelho está fletido, algumas escolas determinam que a posição sur le cou de pied pode se apresentar em dorsiflexão, outras em plantiflexão e algumas utilizam os pés com plantiflexão, mas sem a flexão dos dedos. Ainda nessa postura, a posição sur le cou de pied pode ser a frente e atrás, sendo que na posição a frente pode ser com todo o pé na frente do outro ou apenas com o calcâneo a frente e os dedos atrás da perna abraçando o tornozelo do outro pé.
Quando ocorre o movimento de extensão da perna (golpe) algumas escolas ensinam que deve-se raspar o metatarso (meia-ponta) pressionando o chão. Para outras o pé, ao sair do chão, estará sempre em plantiflexão com flexão dos dedos e portanto não raspará o chão. A altura dos frappés também diverge nas diferentes escolas, podendo ser de 30º até 45º. Em geral, todas as escolas recomendam a acentuação do exercício na extensão, ou seja, com acento para fora.
Todavia, em comum, todos os métodos trabalham os extensores e flexores da perna que é o grande objetivo deste exercício. O grande trabalho é a manutenção da flexão da coxa isometricamente enquanto o trabalho preciso dos extensores da perna nos “golpeamentos” fortalece e traz agilidade para essa musculatura. Quando se faz a dorsiflexão e a raspagem no chão trabalha-se também a musculatura que atua nos pés e dedos.
O battement frappé é um exercício de difícil execução para os iniciantes. Já observei várias formas de começar esse treinamento. Usualmente, os professores começam ensinando a posição sur le cou de pied e estendem a perna no degagé no chão a frente, ao lado e atrás. Eu, nas aulas de adultos iniciantes, ensino utilizando na flexão da articulação do joelho a posição sur le cou de pied abraçando o tornozelo oposto e na extensão, sem raspar no chão, a altura da perna a 45º. Minha escolha por este formato deve-se a minha observação, nos últimos 20 anos que venho atuando como professora para alunos adultos. Observei que a eversão é melhor apreendida com o trabalho da posição sur le cou de pied que abraça o outro tornozelo. Quanto ao movimento de extensão oriento na altura de 45º, pois percebi que os alunos não perdem tanto a rotação externa, o famoso en dehors, durante a realização do trabalho, além de associar com os futuros passos no centro gravando em suas memórias corporais essa angulação. Porém, ao dar aulas para profissionais, se for meu objetivo trabalhar a musculatura dos pés, uso a raspagem no chão. Escolhas…
A agilidade e a coordenação dos battements frappés com trabalho de braços e da cabeça demonstram o nível artístico, o controle e a consciência do bailarino, pois é na velocidade que podemos reconhecer o grau de maturidade que ele tem. Adoro ver um bom bailarino executando o battement frappé corretamente, principalmente os duplos. Gosto muito desse vídeo com a belíssima bailarina francesa Isabelle Ciaravolla realizando os battements frappés que está disponível em: https://youtu.be/ogfQYxWMuBY
Neste exercício reitero o trabalho dos pés com plantiflexão e eversão. Nesse caso reforço a flexão dos dedos dos pés que às vezes se perde na posição sur le cou de pied. Fora isso, insisto no habitual que é a manutenção dos músculos abdominais para a postura correta do bailarino, a pelve neutra e a ativação e manutenção dos rotadores externos.
Antes de terminar gostaria de falar da associação usual do batement frappé com o petit battement sur le cou de pied que trabalha mais a musculatura flexora da perna já que o foco é a flexão da perna, ou seja, com acento dentro. Acredito que essa complementação é muito oportuna para o trabalho muscular já que o movimento de flexão e extensão da perna será muito utilizado depois nos passos do centro, que por sua vez será usado nas coreografias. Um exemplo bem claro são as famosas pirouettes fouettés en tournant a 45º. Para realizar bem os 32 giros, a bailarina vai precisar executar muito bem o movimento de extensão da perna ao lado e depois de flexão ao fazer o retiré passé durante o giro. (neste link tem outras informações interessantes sobre os fouettés para quem quiser. https://www.youtube.com/watch?v=l5VgOdgptRg )
Na próxima postagem, pretendo finalizar os exercícios da barra com os battements developpés já que os grand battements tendu jetés foram analisados no meu texto aqui nesse blog em maio de 2013.
Beijos, Helô