Antes de ingressar no Ballet Grand Théatre de Genève, a bailarina carioca Fernanda Barbosa atuou em importantes companhias, como as dos teatros municipais de Lucerna (Suíça), Hagen (Alemanha) e Dortmund (Alemanha), além do Ballet de Zaragoza (Espanha).
Nos últimos anos, ela dançou em diversos teatros e festivais em países como Cingapura, Taiwan, China, Egito, Tunísia, Ilhas Reunião, México, Canadá, Austrália, Estados Unidos, Rússia, Finlândia, França, Espanha e Itália, além do Brasil.
Fernanda avalia sua atual experiência: “A companhia de Genebra representa um grande triunfo dos meus sonhos porque eu sempre quis participar de uma companhia onde eu pudesse trabalhar com vários coreógrafos diferentes e viajar o mundo todo, visitando e dançando em vários teatros”.
Feliz com sua profissão, Fernanda dá um conselho aos jovens bailarinos e bailarinas brasileiros que sonham em dançar e vencer na Europa: “Eu aconselho a nunca desistir de um sonho. Nada é impossível. Eu, por exemplo, quando tinha catorze anos falei com a minha mãe que o meu sonho era ser uma bailarina internacional e que iria fazer de tudo para conquistá-lo. Eu consegui e hoje eu ainda vivo desse sonho”.
Oi, Fernanda. Tudo bem? Queria começar perguntando como foi sua infância e como o ballet se apresentou a você pela primeira vez?
Quando eu tinha 4 anos vivia dançando e pulando e nessa época minha mãe me perguntou se queria fazer ballet. Disse que sim, e aos 5 anos fui matriculada em uma academia no bairro que eu morava, em Marechal Hermes. Aos 8 anos já tinha colocado pontas e por orientação da minha professora, fiz uma prova para o ballet infantil do Rio de Janeiro, dirigido por Alice Arja em Cascadura. Passei e continuei meus estudos. Aos 12 anos falei para a minha mãe e para a professora Alice Arja que gostaria de ser bailarina. Minha mãe acatou a decisão, pois já conhecia a minha determinação. A partir daí comecei a participar de festivais para entrar mais no universo da dança.
Li que você aos 14 anos já sonhava em ser bailarina profissional e viajar o mundo. Quando você percebeu que era isso que queria fazer?
Após vários concursos e conhecer colegas que iam para o exterior, por volta dos 14 anos, decidi que queria fazer carreira internacional. Participei de vários concursos para conseguir uma bolsa ou um contrato para dançar no exterior. Tive, inclusive, um convite para o Palácio das Artes, mas nada parecia se concretizar. Nesse período eu já havia saído da escola da professora Alice Arja e passei a estudar com Eugenia Feodorova em Copacabana. D. Eugênia me apoiou muito e um dia um casal amigo de meu pai que morava na Suíça veio me ver na escola da D. Eugênia. Eles gostaram muito do meu trabalho e decidiram me ajudar. Fui com eles para a Suíça sem saber o que ia acontecer. Para minha surpresa dois dias depois que eu havia chegado, participei de uma audição (prova) para entrar em uma companhia em Lucerna (Suíça) e mais uma surpresa agradável, passei. Ali comecei minha carreira como bailarina.
Como foi sua vida profissional?
Nesta companhia fiquei por 2 anos e meio. Fui muito feliz lá e tive a oportunidade até de gravar uma matéria para o programa Fantástico da Rede Globo com o Pedro Bial. Quando saí da companhia na Suiça, fui trabalhar em Hagen na Alemanha e ainda trabalhei em Dortmund.
Fui então para a Espanha tentar entrar em uma companhia e fui aceita pelo ballet de Zaragosa para fazer a personagem Mirtha, a rainha das Willis no ballet Giselle. Fiquei surpresa, pois como sou negra, achei que talvez não fosse aceita. Mas, pelo contrário, tive excelentes críticas e fiquei muito feliz de trabalhar na Espanha. Por um problema de saúde, precisei retornar a Suíça para casa dos meus “padrinhos” e naquele momento tive vontade de voltar para lá. Fiz então uma nova audição para o ballet de Genebra. Foi uma prova incrível, eu estava com o número 100 e me lembro que eu tinha a certeza que seria aceita.… e fui! Isso foi em 2000.
Entre tantos países nos quais você dançou, com qual deles você mais se identificou? E qual deixou aquela lembrança mais querida?
Genebra, pois era o objetivo que eu almejava. Uma cia que viaja muito e trabalha com muitos coreógrafos. E adoro Genebra, acho uma cidade cosmopolita, onde encontramos pessoas do mundo todo.
Qual dica indispensável você daria de bailarina para bailarina?
Eu acho que devemos abdicar do ego. O ego atrapalha e impede que se abra para críticas e, consequentemente, para o progresso.
Quais são seus repertórios favoritos?
Giselle é um ballet que me encanta. Adorei fazer Mirtha!
Também gostei muito de dançar como solista do Concerto Barroco de Balanchine. Atualmente estou gostando muito de fazer o repertório mais contemporâneo, onde posso expressar um outro lado meu.
Como você encara o ballet adulto, que dica você daria para quem começou muito depois?
Acho muito interessante. Inclusive eu dei uma palestra em um evento de Biodança para algumas pessoas de expressão corporal e todos gostaram muito. Acredito que pode ser um trabalho incrível para o corpo e mente desses alunos.
Como é a sua rotina de bailarina profissional? O que você faz ou pensa quando acorda, como são seus dias?
Quase não existe rotina na Cia de Genebra. Viajamos tanto que às vezes deixo minha mala pronta no corredor, pois não vale a pena desmanchar a mala. Mas, quando estou em Genebra trabalhamos das 10h às 18h com uma hora de pausa. Quando estamos em viagem começamos às 12h às 20h e quando temos espetáculo o trabalho é das 12h às 17h, paramos para comer e nos preparar para o espetáculo que ocorre em geral às 20h.
Qual a técnica que vocês utilizam para se manterem em forma e se aquecer?
Fazemos todos os dias aulas de técnica clássica que supre as nossas necessidades. Atualmente, existe uma tendência a trabalharmos com uma técnica contemporânea que pode ser complementar ao ballet, ajudar o nosso trabalho e abrir novos horizontes.
Conte-nos um pouco da Fernanda além da bailarina clássica.
Gosto muito de ter amigos fora do meio do ballet, conhecer pessoas diferentes para abrir a mente. Em Genebra tenho muitos amigos, bailarinos e não bailarinos. Minha vida é muito boa.
E os planos para o futuro?
Estou num momento ótimo, dançando muito, conhecendo muitos lugares, teatros e pessoas novas. Mas, já comecei a dar aulas de ballet para ex-bailarinos e estou muito feliz com este trabalho. Os alunos estão gostando bastante e quem sabe pode ser um trabalho para o futuro.